.

18.3.07

O final feliz que sonhamos

Todos os seres humanos, homens ou mulheres, idealizam a obtenção de determinadas conquistas de maneira fácil, quase mágica. É fato que todos sonham conseguir realizações que aproximam-nos de uma vida perfeita, existente tão somente além do fim das histórias de contos de fada.
Em vida, as pessoas buscam obter riquezas, aceitação e, acima de tudo, encontrar alguém perfeito que compreendam-nas, amem-nas de tal forma que sequer tenham mau humor. Todavia, esquecemos que estas características que buscamos, não estão presentes em nós mesmos, visto que somos meramente humanos.
Tais realizações que buscamos, podem ser alcançadas nos contos de fada. Nestas fábulas, a resolução de situações problemáticas, a ascensão social e o encontro da pessoa amada são concebidos pelos heróis após muitos momentos de privação.
Há muitos anos, alegorias como Cinderela e Branca de Neve são transmitidas para crianças de diversas gerações, exercendo influência na constituição das idealizações que irão ser significativas durante toda a vida. Nestas estórias, todo sofrimento é substituído por um final feliz, onde a heroína adquire riquezas e um casamento perfeito com um homem belo e heróico que ela mal conhece.
Essas características se fazem presentes nas histórias contemporâneas significativamente. Nas novelas por exemplo, as tramas são estruturadas de forma em que as personagens conseguem a felicidade com a pessoa amada após muitas privações. Outra questão importante é que, assim como nos contos de fada, o casamento é a maneira encontrada para que haja ascensão social. É possível perceber que a capacidade intelectual e de trabalho dos "oprimidos", geralmente, é ignorada, sendo o matrimônio a única forma de chegar a uma vida melhor.
Com o passar dos séculos, o sexo feminino obtivera diversas conquistas, como por exemplo, espaço no mercado de trabalho e domínio de meios de controle de natalidade. Tais características se contrapõem às idealizações existentes sobre final feliz, visto que neste tipo de encerramento, a mulher tem uma relação de dependência, o que diverge da liberdade feminina tão defendida na contemporaneidade.
Portanto, há uma contrariedade entre o ato de sonhar com conquistas assemelhadas aos contos de fada e a mudança de costumes ocorridas na idade contemporânea. Em uma realidade competitiva, idealizar um final feliz é considerado, para alguns, um indicativo para o fracasso. O sonho deve permear a existência humana, mas não deve ser a única razão de vida.

10.3.07

O SAMBA E ALGUMAS DAS SUAS MODALIDADES: DIVERSAS FORMAS DE SOM E IMAGEM

“Não deixa o samba morrer,
Não deixa o samba acabar.
O morro foi feito de samba,
De samba pra gente sambar”.
(Não deixe o samba morrer_ Édson e Aloisio)

O samba, enquanto produção cultural que não permanece estagnada, adquirira diversas re-significações e características diversificadas. Logo, este obteve estilos diferenciados e características específicas de acordo com cada modalidade deste ritmo musical. É a sonoridade da música e o seu significado que organizam a cultura do samba.
Essa cultura possui um caráter de sociabilidade e dentro deste contexto, é possível citar o samba-de-partido-alto, modalidade do samba em que partideiros[1] utilizam versos de improviso com bastante habilidade e os ouvintes participam dançando, cantando e batendo palmas. Nesta modalidade do samba, o sambista utiliza aspectos da sua realidade e crítica social com astúcia para compor o samba.
A modalidade do samba que reina nos desfiles carnavalescos cariocas é o samba-enredo que é composto, seguindo a temática de sua devida escola de samba[2]. O carnaval adquirira um caráter de festa luxuosa responsável pela divulgação da produção cultural brasileira mais evidenciada que é o samba. Diante disto, no período carnavalesco há uma enfatização das escolas de samba e tudo que as compõem como a bateria e seu batuque diferenciado, a beleza dos corpos seminus presentes nas apresentações e a extravagância das fantasias e alas.
A ênfase à grandiosidade das escolas de samba atribuiu ao Rio de janeiro a imagem de capital do Carnaval. Alguns sambas de enredo adquiriram uma repercussão popular tão imensa que tornaram-se inesquecíveis, conforme o samba Peguei um Ita no Norte[3] da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro citado abaixo:
“Explode coração,
Na maior felicidade.
É lindo o meu Salgueiro,
Contagiando e sacudindo essa cidade”.
(Peguei um Ita no Norte_Salgueiro)

Totalmente diferenciada das modalidades citadas, a bossa nova[4] possui uma sonoridade que envolve o samba e o jazz[5]. Tal ritmo musical adquirira um reconhecimento internacional enquanto produção cultural brasileira e garantiu um sucesso comercial para seus compositores e intérpretes. Pessoas brancas e de classe média fizeram uma forma diferenciada de música, utilizando traços do samba e de sons americanos, transmitindo uma idéia de inovação. Logo, tal modalidade obteve um caráter distanciado do assim dito samba de raiz[6].
As canções de bossa nova falavam de elementos presentes no cotidiano de jovens da classe média carioca e de diversos sentimentos. Suas letras e batidas conquistaram simpatizantes em todo o mundo.Garota de Ipanema[7], uma das canções desta modalidade, projetou internacionalmente a praia de Ipanema, atribuindo-lhe grande prestígio. É possível perceber que neste movimento havia uma exaltação aos elementos presentes no universo burguês como a Zona Sul da cidade e seus pontos nobres, mulheres lindas, brancas e bronzeadas e referências americanas significativas.
O pagode[8] também é citado por alguns como uma das modalidades do samba. Este gênero possui uma aceitação expressiva nas camadas populares e é extremamente lucrativo para a indústria fonográfica. Suas letras e batidas, geralmente, são melódicas e podem possuir traços do hip hop[9] e do funk carioca[10]. Normalmente, é transmitida a imagem de que os pagodeiros[11] são pessoas oriundas de classes menos abastadas que conseguiram ascensão através da música.
As diversas modalidades atribuídas ao samba mostram que este pode ser expressado por sons e imagens diferenciadas. Isto garante a imortalização desta manifestação cultural a cada batuque. Logo, a voz e o apelo do sambista são traços que perpetuam-se.
[1]Os partideiros são sambistas que improvisam versos nas rodas de partido-alto.
[2] A primeira escola de samba que surgiu foi a Deixa falar em 1929.
[3] A escola de samba Acadêmicos do Salgueiro foi campeã no ano de 1993 com o samba Peguei um Ita no Norte.
[4] O início do movimento musical chamado de bossa nova é marcado pelo mês de agosto de 1958, com o lançamento da música Chega de saudade de Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes.
[5] O jazz é um tipo de música popular norte-americana de origem negra.
[6] Samba de raiz é um termo utilizado para se referir ao samba “autêntico”, voltados às tradições e feito por sambistas considerados “do povo”.
[7] A canção Garota de Ipanema foi composta por Antônio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes em 1962.
[8] O termo pagode é utilizado para denominar os grupos de sambista que se reúnem para fazer samba. Na década de 1990, este termo foi apropriado para caracterizar uma forma de cantar e dançar samba de maneira diferente.
[9] O hip hop é um estilo de música popular americano que fora apropriado por brasileiros.
[10] O funk carioca é um estilo musical influenciado pela Black Music americana que possui diversas variações como os pancadões, proibidões e o funk melody que seria uma forma mais romântica.
[11] Os membros dos grupos de pagode são chamados de pagodeiros.

2.1.07

O cinema e a infância

O cinema é uma manifestação cultural que permite que autor e/ou diretor estabeleça uma relação com o espectador, onde os agentes que realizam tal produção, expõem sua perspectiva em relação ao mundo. Logo, a obra cinematográfica caracteriza a transformação de pensamentos e imaginação que são fatores extremamente singulares, em algo que pode ser compartilhado por outros indivíduos que construirão diversos significados para a obra assistida de acordo com as concepções adquiridas pelos mesmos em seu contexto social.

Logo, o cinema permite que haja uma relação entre o produtor e o público, onde aquele utiliza determinada ideologia para moldar os pensamentos deste.

Diante disso, essa manifestação cultural se tornara um instrumento de manipulação de massa a favor do sistema capitalista, contribuindo para a alienação dos sujeitos. O cinema tem grande influência sobre os consumidores, determinando padrões, estereótipos e lançando tendências. Logo, este acaba adestrando o público de maneira que este tenha sua atividade intelectual minimizada e torne-se padronizado.

Toda produção cultural influencia de alguma forma na constituição social dos indivíduos, visto que é através destas que costumes são perpetuados e re-significados. O cinema, englobado nesta condição, transmite novas concepções às gerações que se renovam. Portanto, este tende a preparar o ser humano contemporâneo que está submerso em uma sociedade extremamente imagética, para a crescente modificação das tendências tecnológicas e da estrutura social ocorridas no sistema capitalista.

Nesse contexto, a criança se desenvolve em um meio social em que ideais são transmitidos de acordo com o interesse das classes dominantes dos bens culturais e dos bens de consumo. É possível perceber que o cinema tem suma importância para a criação de produtos voltados ao público infantil, ou seja, a constituição da criança enquanto ser social é influenciada pela indústria cinematográfica que adestra-a e torna-a alienada, garantindo que esta seja uma mera expectadora.

Portanto, os filmes classificados como infantis, em sua maioria, são produções tão somente feitas para a criança, com o objetivo de produzir pequenos consumidores. Nas produções cinematográficas feitas para este público, não há a participação de crianças em sua autoria, estando estas limitadas a atuar em papéis criados pelo adulto.